KOMPANHIA
O Ilha do Tesouro
2005 a 2016Melhor direção de Teatro Infantil – APCA 2005 (Associação Paulista dos Críticos de Arte)
Melhor Produção – Coca-Cola Femsa 2005
Um dos três melhores espetáculos infantis de 2005 – Guia da Folha
4 estrelas na revista Veja São Paulo
“Dramaturgia inteligente e experiência afetiva inesquecível em Família”. (Guia do Estado)
Inspirado pelo famoso livro A Ilha do Tesouro escocês Robert Louis Stevenson, Ricardo Karman engendrou este instigante jogo teatral, programado para funcionar com crianças acompanhadas por adultos com quem compartilhassem uma relação de afeto (pais, avós, tios, irmãos). Como o enredo propiciava situações em que o amparo desta pessoa mais experiente tinha um significado especial, o vínculo se revelava necessário. A obra continha um aspecto figurativo que agradava o encenador, especialmente quando lia o romance para os seus filhos pequenos. Ela trazia em seu subtexto um clássico rito de passagem da infância para a maturidade. Do original, ele preservou apenas o nome e a travessia simbólica.
A viagem começava em uma taverna de época, construída em um terreno vazio vizinho ao teatro do Centro da Terra. Enquanto os espectadores bebiam suco de uva e comiam pão, um pirata caolho e perneta adentrava o estabelecimento. Após pedir uma dose de rum, o visitante passava a narrar trechos da sua vida extraordinária: “… é verdade, eu sou caolho, sim senhor; mas as maravilhas que este único olho viu poucos de vocês verão com os dois que têm…”. Então se retirava, para no minuto seguinte reaparecer todo ensanguentado e transpassado por uma enorme espada, arrastando um modesto baú. Momento em que se aproximava de uma criança, sussurrava um segredo no seu ouvido e morria.
Enquanto se desenrolava a cena, seus inimigos esmurravam a porta para ingressar na estalagem. Assustada, a proprietária abria um alçapão secreto no chão e conclamava a garotada a fugir por um labirinto de túneis. Era uma sequência crítica, porque a partir daí os baixinhos deveriam seguir separados dos seus parceiros maduros. Forjado, o contexto servia para mobilizar internamente as duplas a aceitarem esse distanciamento, a um só tempo real e notavelmente alegórico. Deixados para trás, e involuntariamente recrutados por corsários rivais, os marmanjos prosseguiam por caminho paralelo – o script previa circunstâncias em que os grupos se juntariam.
Durante uma hora e meia, todos percorriam um imenso cenário-instalação, projetado por José de Anchieta e Karman. Munidos de lanternas, os expedicionários se esgueiravam por terrenos lamacentos e subterrâneos sombrios, escapavam por escorregadores, escadas de cordas e troncos sobre pântanos, invadiam as coxias e camarins do teatro.
De repente os pirralhos avistavam uma árvore falante, em cujos pés alguém abandonara uma misteriosa arca. Passos adiante e flagravam uma inadvertida mãe acorrentada em uma antiga masmorra. Em passagem sintomática, os maiores de idade, travestidos de vilões, enfrentavam os moleques lutando com espadas de plástico, fazendo cócegas ou se atacando em uma alucinada guerra de bolinhas. Enquanto os mais velhos revisitavam brincadeiras da infância, e se descobriam sentimentalmente envolvidos na trama, os mais novos vivenciavam emoções fortes e o entusiasmo de terem conseguido transpor as adversidades. Muitas vezes, as provas e obstáculos eram enfrentados com segurança porque as crianças notavam a proximidade de seus companheiros adultos.
O tesouro a que a galerinha se encarregara de achar não era, na verdade, uma caixa cheia de doces e guloseimas, mas a própria aventura afetiva do reencontro com os seus familiares. Valendo-se de um engenhoso truque cenográfico, estes tinham suas cabeças enfiadas no interior do último baú que abriam. Na saída, cada um ganhava um bauzinho simbólico, pintado em um ponto da peregrinação pelos seus cicerones. Dentro, uma frase emblemática parafraseava o escritor mineiro Guimarães Rosa: “o tesouro não está nem no início, nem no fim, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia…"
A mecânica, a dramaturgia e o roteiro foram de grande complexidade, porque lidava com a imprevisibilidade e o caráter aleatório do público, o que demandava precauções extras. Por exemplo: sem perceber, a garotada sempre estava dentro de compartimentos e andava para frente, por um percurso que parecia infindável. No entanto, se tentassem voltar, encontravam vigias ou portas fechadas. Como se tratavam de ações invisíveis para os aventureiros, requeriam ser planejadas e ensaiadas meticulosamente. Afinal, quem estava participando não conhecia as falas nem as marcações e agiam instintivamente. Não bastasse, existiam dois trajetos principais coordenados (dos acompanhados e dos acompanhantes), além das rotas secundárias, todos simultâneos e heterogêneos.
Curiosamente, a produção da Kompanhia do Centro da Terra estreou sem patrocínio e viveu só de bilheterias ao longo dos onze anos consecutivos em cartaz, fenômeno praticamente inédito no Brasil recente, tendo ultrapassado a barreira de quinhentas apresentações. Ao menos duas outras peças são igualmente recordistas por aqui. O Mistério de Irma Vap, estrelada por Marco Nanini e Ney Latorraca, emplacou onze anos contínuos. Trair e Coçar...É Só Começar está há mais de três décadas circulando pelos teatros nacionais. Em O Ilha do Tesouro, a meninada que participou dos primórdios da temporada, acabou retornando depois, mais madura, levando seus irmãos e primos menores. Houve uma troca de geração.
OBSERVAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
– O ILHA DO TESOURO é um espetáculo participativo no gênero teatro-aventura, portanto, todos farão alguma atividade durante a apresentação. É um jogo teatral mas confunde-se também com uma expedição real por lugares desconhecidos e percurso acidentado;
– Haverá atividade física e deslocamento por obstáculos. Crianças e adultos percorrerão caminhos escuros com barro, escadas de troncos, água e cordas. Possivelmente, alguns ficarão sujos de terra e um pouco molhados;
– Há guerras de bolinhas de meias e lutas com espadas de plástico. Portanto, acidentes podem ocorrer decorrentes de tais atividades (cabeçadas, lanternadas, espadadas, boladas, etc…);
– O espetáculo é desaconselhável para grávidas, deficientes físicos, visuais, cardíacos, claustrófobos, alérgicos a mofo ou pó e pessoas que tenham medo de escuro ou dificuldade de locomoção;
– A Produção reserva-se o direito de não permitir a entrada de crianças menores de 7 anos. Maiores de 12 anos poderão fazer o trajeto dos adultos;
– O espetáculo foi planejado para duplas (uma criança e um adulto) que tenham relação afetiva entre si.
– Sugere-se que a criança esteja acompanhada do pai ou da mãe ou de um parente ou pessoa com a qual ela tenha um relacionamento afetivo importante, uma vez que o espetáculo criará situações em que o amparo desta pessoa terá um significado especial. (A produção não recomenda babás como acompanhantes das crianças);
– As crianças farão a aventura separadas dos adultos, portanto, não é aconselhável para crianças que tenham medo de ficarem sozinhas;
– Para qualquer eventualidade, os adultos, apesar de separados, estarão sempre próximos das crianças. Além disso, temos monitores presentes durante todo o percurso;
Recado aos adultos: respeitem o medo das crianças.
E lembrem-se: elas são as protagonistas, vocês, apenas coadjuvantes!
Pede-se às crianças que tragam lanterna pequena;
Pede-se aos adultos que venham com camiseta preta, uma vez que serão “transformados” em Piratas;
Recomendam-se roupas confortáveis: tênis, jeans e camiseta e não trazer bolsas, brincos, pulseiras, celulares, sapatos de salto alto, roupas e objetos que possam atrapalhar movimentos, ações ou causar acidentes.
Atenção: Espetáculo não recomendado para grávidas, pessoas com dificuldades de locomoção, claustrofóbicas ou crianças com medo de ficarem sozinhas.
FICHA TÉCNICA
Texto, Criação, Direção Ricardo Karman
Cenografia Geral das Instalações José Anchieta e Ricardo Karman
Figurinos/Cenografia da Estalagem José Anchieta
Adereços e Cenotécnica Fernando Brettas
Elenco Yunes Chami, Mário De La Rosa, Xande Mello, Bruna Aragão, Ellen Regina, Renato Sousa
Dramaturgista Mário De La Rosa
Assistente de Direção Bernardo Galegale
Contra-regras William Souza e Beethoven Lima
Operador de som e luz Antonio Lima
Trilha Sonora Estúdio Fine Tuning
Fotografia Marcelo Lerner e Giovanni Fois
Produção Geondes Antônio e Grupo
Design Gráfico Keren Ora Karman
Realização Kompanhia do Centro da Terra