MÚSICA
ultra­som
30.11.09Percussionista carioca monta uma “orquestra uterina” em ambiente que reproduz o ventre materno
Depois de botar um Fusca 69 no palco, Siri explora o universo sonoro do útero materno no CD “Ultrasom”, com lançamento dia 28 de novembro (sábado) no MIS, dia 29 (domingo) na Casa das Caldeiras e 30 no Teatro do Centro da Terra. O espetáculo envolve palco e plateia num cenário com projeções da artista visual Deborah Engel que relembra as sensações da vida pré-parto.
Sua mais recente experimentação musical é resultado da gestação da filha Clara. “Ia às sessões de ultrassonografia e ficava encantado com aquela vida que surgia e o som que produzia. Não tive dúvidas: ali estava a minha nova inspiração”, lembra Siri.
Gravado também em nove meses, “Ultrasom” é a viagem de um percussionista pelos sons de uma nova vida: da pulsação no ventre materno, gravada nas sessões de ultrassonografia de Clara, ao primeiro choro.
“Imagine como seria passar nove meses trancado em uma sala escura. O lugar: apertadinho, porém confortável, envolvido por uma marcação de tambor constante, e por um barulho de líquidos borbulhando. Você ouve, sem poder entender, conversas abafadas do lado de fora, que parecem vir de todos os lados. Não há muito o que fazer lá dentro além de brincar com o saco transparente que te embrulha e beber o líquido quase sempre doce à sua volta.” Está dado o clima do novo espetáculo de Siri – “Ultrasom”.
O cenário, em forma de útero, envolve os músicos e a plateia. Projeções da artista visual Deborah Engel, parceira de Siri em vários trabalhos, completam a atmosfera, levando a uma viagem de múltiplas sensações. No palco, sons extraídos das sessões da ultrassonografia de Clara viram música: coração, pulmão, respiração e fluxo sanguíneo dão sustentação ao ritmo e se fundem a sons produzidos por dois percussionistas e um quarteto de cordas (violino, cello, viola e baixo acústico). Ao longo de 50 minutos, o espetáculo multimídia tem efeito hipnótico.
A equipe de “Ultrasom” é formada por Siri, André Moreno (percussão), João Gabriel (percussão),Carol Panesi (violino), Luciano Corrêa (cello), Rodrigo Sebastian (baixo acústico), Deborah Engel (vídeo-arte), Marimba (cenário), Martau (técnico de som) e Binho Schaffer (iluminação).
CD experimenta ritmo e forma
Para além do universo intra-uterino, “Ultrasom” explora texturas sonoras, com ritmos vigorosos e melodia. Quem espera um disco tradicional do gênero, ou seja, de música instrumental exclusivamente com percussão, deve se surpreender com o contraste grande de percussão e cordas presente em suas músicas.
A primeira faixa, “Ultrasom”, funde sons de respiração, coração, líquido amniótico, fluxo sanguíneo e batimentos cardíacos, formando uma verdadeira “orquestra uterina”. Na linha conceitual, “Chorinho nº1” traz o registro do primeiro choro de sua filha Clara, gravado na maternidade. Em “Anjo do Mato”, com ares de drum’ n’ bass sofisticado, Siri vem de harmonium e trompete, enquanto na faixa “Papai Chamou” ataca com um vocal percussivo, um riff marcante e uma atmosfera de trilha sonora de filmes sessentistas.
Se as experimentações rítmicas dão o tom em “Ultrasom”, músicas como “Siriará” e “Clariando” rompem com a forma característica da composição instrumental. Em vez de apresentar um tema, solar e depois mostrar sua virtuosidade, fazendo uma releitura do tema para finalizar voltando ao tema original, Siri cria histórias. “Siririá” parte de uma percussão explícita para chegar a uma melodia desenvolvida por um quarteto de cordas, do jazz latino a uma textura de música mediterrânea. Já em “Clariando”, um piano circular conduz a melodia para paisagens distintas, de uma austeridade épica a lugares lúdicos. “Cordão Umberimbau” tem a participação especial de Lenine com um vocal percussivo.
A ultima faixa, “Placenta”, foi feita com sobras de áudio. “Após o nascimento de Clara fiquei impressionado com a placenta, um órgão que nutre o feto durante nove meses e depois é jogado fora. O mesmo acontece com os áudios do CD. Não pensei duas vezes: fiz uma música”, Siri explica.
O multi-instrumentista assina os arranjos, a produção musical e a gravação da parte rítmica, tocando instrumentos como bateria, tabla, didjeridoo, surdo, berimbau, pandeiro e trompete. O disco tem as participações de Sacha Amback (pianos), Jr. Tostoi (guitarras), Nicolas Krassik (violino), Iura Ranevsky (cello), Bruno Migliari e Denner Campolina (contrabaixo), Leo Sousa (vibrafone).
O multi-instrumentista Siri
O percussionista, compositor, arranjador e produtor Ricardo Mattos, Siri, faz música contemporânea, misturando arranjos de instrumentos de cordas e de sopro com inusitadas percussões, vídeo-arte e performance. Em seu trabalho de estreia, “Siri” (independente), de 2004, o músico levou aos palcos sua parafernália musical e encantou o público com um instrumento diferente: uma sucata de Fusca 69 com motor, latarias e capota, uma espécie de “orquestra urbana”. O show deu origem ao CD/DVD Siri ao vivo “Concerto para Conserto” e foi apresentado nas principais cidades brasileiras, participando dos festivais 13º PERCPAN, Cenas Contemporâneas, Multiplicidade (Oi Futuro – RJ), XVII Bienal de Música Contemporânea (RJ), Fórum Cultural Mundial, O Fenômeno das Novas Orquestras (CCBB – SP) e 6º Festival do Tambor Mineiro. Siri realizou também performances no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE–SP) e na VERBO – Galeria Vermelho (SP).
A música de Siri está presente em compilações no exterior (Brazilian Beats 6, Nu Brazil 2 e The Best of Brazilian Beats) e o músico foi um dos selecionados do Rumos Itaú Cultural 2005/2006 e do Programa Petrobrás Cultural 2007/2008.
A foto da capa de seu CD, Siri, feita pela artista visual Deborah Engel, faz parte da coleção de arte contemporânea de Gilberto Chateaubriant, no MAM – Museu de Arte Moderna – RJ.
Representante da nova geração de percussionistas brasileiros, trabalhou com artistas de reconhecimento nacional e internacional como Sivuca, MPB-4, Lenine, Ana Carolina, Bossa Cuca Nova e Roberto Menescal.
Com o grupo de blues Big Allanbik realizou uma turnê pelos Estados Unidos (Blue Note – NY), em Chicago e Miami. Ainda em Nova York gravou o CD “Batuque y Blues”, considerado pela crítica da época como o melhor disco de blues estrangeiro.
Em 98 foi convidado pelo cantor Abel Duëre para participar de concertos em Portugal, incluindo a Expo – Lisboa. Realizou diversas turnês com o grupo Bossa Cuca Nova e Roberto Menescal nos principais festivais da Europa (Portugal, Espanha, França, Suíça, Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, País de Gales, Itália, Bélgica e Holanda), no Japão (Festival Get’s Bossa Nova – Tóquio) e nos Estados Unidos. Apresentou-se na cerimônia de premiação do 3º Grammy Latino em LA – indicação de melhor álbum pop contemporâneo com o grupo Bossa Cuca Nova.
Em 1999/2000 residiu em Los Angeles, onde, além de trabalhar, ampliou seus estudos. Graduou-se como baterista pela Los Angeles Music Academy, onde obteve uma bolsa de estudos e ministrou classes de batucada. Nesse mesmo período, reciclou seus estudos de percussão indiana e africana na Sangeet World Music School (Pasadena – CA).
Gravou as trilhas sonoras dos filmes Beethoven III (Universal Estudios – CA), Le passage (França), Avassaladoras (Fox–Brasil) e Totem (Fashion Rio).
Siri possui extensa discografia, tendo gravado mais de 50 CDs de diversos estilos musicais. Dkestacam-se Bossa Cuca Nova (indicação ao Grammy), Ana Carolina, Lenine, Israel Varela (Tijuana – México), Marcelinho da Lua, Big Allanbik (NY), LAMA (Los Angeles – CA), Daniela Mercury e Tributo aos Novos Baianos.
Mais informações
www.siri.etc.br
www.youtube.com/ricardosiri
www.myspace.com/siripercussion